jeudi 25 septembre 2008

crispaçao




Crispaçao

Vou malograr este sentir
e devolver vida à historia
das minhas noites antigas.
Afogada nos cheiros e na leveza
daquele maternal envolvimento,
a casa estalava toda a empurrar
o
escuro e parecia sofrer dum
corte absoluto, inicial.
Os moveis desalinhados inchavam
e gemiam.
Estavam vestidos por dentro com a morte
pendurada nas cruzes de madeira.
Vi-a escolher um fato, passear um dedo pela pinça,
rejeitar a bainha desfeita.
Enfiou os braços tensos pelas mangas
pendurou-se baloiçando como louca
estremecendo o guarda-fatos.
Os seus cabelos baços roçavam-lhe a face,
Malvada !
-« Leva o vestido branco-disse-lhe,
o que està descosido nos punhos.
A saia continua desbotada, nao lavei a mancha
no cetim. Deve de estar roida pelo tempo.
Esquece a coroa, os laços e as flores,
sao so um po no fundo da caixa.
Leva-a também.“
Ouvi um ultimo estremeçao e a casa acalmou.

Deixei que a alfazema e o sono me vencessem.
De manha subi os estores, vi um rastro que seguia no ar
um vento gélido enrolado em si proprio.
Saiu pela janela, mas antes afundei os olhos nele.
Contive um espirro e engoli o demo de vez.

LM, 5 de agosto 2008

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