dimanche 30 août 2009

traits d'envies























Reine en majesté avec des crapauds















autoretrato em magritte










Plasticité de l'oeuvre

Le crayon, la pointe, l'outil creuse les regards
des êtres, les formes agencent leur poids...
restent-ils entiers dans le cadre?
déchirons le souci du fini, quel angoisse!
LM




inez aux oreilles d'âne!

jeudi 27 août 2009







Augustina

Dans la maison de Gustine, après les vêpres,

la lumière descend pour épouser les angles droits des armoires.

Elle boit la blancheur amidonnée des napperons

et parsème d’ombres les pieds des tables.

Un papillon fuyant sous le tapis, aidait le jour à s’éteindre.

Moi, j’attendais la nuit pour écrire.
C’est l’heure où la maison s’anime du bruit familier
des casseroles et du souffle du feu.
Au milieu de la pièce, l’enfer se laissait dominer
par deux mains, jetant dans la marmite,
des morceaux de viandes découpées,
un chou ébouillanté à la cannelle, trois patates douces
biaisées par un couteau infernal, un gros navet bien violet,
deux feuilles de laurier, du romarin,
et ainsi le bouillon du lendemain, ne sera que plus goûteux.
Je gardais les yeux mi-clos à cause de la fumée
et soumise à une telle sagesse,
j’observais.
Soudain, un rire frappa très fort contre le mur de casseroles cuivrées,
qui se mirent à vibrer.
Ma chaise bascula en arrière et fit un bruit d’arbre sec en se brisant un pied.
Voici le prodige : Augustina venait d’entrer dans la cuisine, toute nue,
ayant pour seul artifice, un petit chapeau à plumetis, couleur betterave.
Sa bouche brillait, cela lui donnait une sorte de visage achevé
sur un corps étrangement blanc.

( ... )

extrait de la nouvelle " augustina"

LM

2009

mardi 25 août 2009

Fui ler









Para o eduardo prado coelho, amigo

Fui ler

como num desenrolar de uma queda na escada

da qual tu serias o unico arquitecto,

numa viagem no tunel dos /songes/

desarticulando a noite,
deixei à porta, jà longe, as maos frias e vou
a cair para cima sem capa nem verbo,
suspirando como um peixe alado,
de borco e no jornal do dia,
escamada até ao âmago,

de coraçao aberto ao teu.

vou usando das tuas ofrendas,
comendo àvida a massa apalavrada
ao sentimento.

era, fui e aconteceu, presentindo
fiquei quietinha no escuro escutando,
surgindo, o redobrado sino
na capela dos moribundos.

o teu cantar de cisne e negro,
singido ao teu coraçao…
à la vrille spéciale du poème en chant
mais où étais-tu avant d'être parmi nous?

merci de l'infini

mais amparada fico
nestas esquinas do poema,
lampiao em punho,

pura luz, grande.

LM, O8

vendredi 21 août 2009

as làgrimas da contemplaçao
as camas vazias, lividas
limpo os olhos com a ponta do lenço
espero tanto quanto me é permitido
enquanto espero lanço os olhos à deriva
e quem sabe?
o orvalho fica suspenso nos finos caules
como beijos matinais, humidos.
poderia recomeçar tudo de novo
se uma aurora me surpreendesse
enquanto durar este quase sono.

passo o amor ao fio da espada.
prodigo gestos falecidos.
reconheço objectos desertados pelo homem.
coro no penultimo pudor antes da picada da abelha.

LM, 08

dimanche 16 août 2009

Ela disse


Ela disse…

Ela procurava um rio dentro do mar eterno.
Provou-lhe a prata, engolio o sono
e nao lutou para subir à superficie.

Ela pediu-lhe um coraçao novo,
para lhe bordar outro destino.

Inez debruçou-se lenta e delicada,
para lhe ouvir os passos.
Esticou os braços e julgou toca-lo.

Ele chegou mais tarde, real.

A luz dele interrompeu-lhe o sonho.

Ela disse : fala-me da beleza là fora.

Amaram-se depressa, ele disse :
Sou esta fonte que te esquece,
amargo os cantos deste quarto.

Ele disse : Morro aqui contigo, neste amor.
Corro também , louco para te chegar o beijo à boca.

Ela responde : Ri alto como a arvore,
balanço os braços até vergar o bambou,
numa tontura apago-te dos meus olhos.

LM, agosto 2009

jeudi 13 août 2009









Descontinuidades

Num fôlego adocicado
A poesia sobe-me, desfeita
Esquivo-a jà perto da boca.
Pinto com a mao desconhecida
uma incerteza, um lugar sem lugar.
No fosso, escurecendo em làgrimas
O cobre oxida-se no passear das aguas.
Infima a luz a despedaçar este “ coraçao
De manteiga” pro-fingidor.
Deambulo sob o ambar coroada de agaves
E adivinhas, com laços a fugirem-me

Pelos ombros, em tarefa de principiantes,
Maos alheias sem do nem clemência,
A domarem a seda.
Esmerado saber antigo que me levanta a nuca
Arrepiando-me os cabelos em nos tensos.
A boca a entoar mutilada,

A cançao arrependida pela lingua dos animais
Numa cama sem grades.
Cristalina voz a nomear o encanto deste oficio
de esperar.Pedaço de um nitido redor
Agravado por anzois e muralhas.
Impar vulto, ansejo, chuva que termina a noite,
e abano os dedos todos batendo ao de leve,
finalmente, no
teu rosto bebido.
Pontapeio o teu joelho para que me acordes,
àspero, deusa e cordao, matriz dos beijos ascensionais,
ladra-me o que me roubas de dia e me convias ao vulto,
jà fora das muralhas, num deambular polvilhado de estrelas.
Um céu aberto e nos abaunilhados de gostos e sabores,
na festa do presente, destemidos perante a morte,
aladamente frios e dementes, surgimos numa intensa acuidade,
desnudos, inquiridos, ajornados, ausentes e mudos.
Até que enfim, amor !

LM, 2O de julho 2008

jeudi 6 août 2009

Desfio novelos

No espelho do mundo, este amor.
Vou deixà-lo apontado para o sol.
A mao no punhal brilha,
a ponta do aço abre-lhe a carne.
Inez cai no chao, é a sua ultima dança.
Os olhos jà longiquos impressionam
a pàgina onde escrevo a Pedro:
- Tu nao sabes amor, porque te vais sempre
tao apressado e a névoa que cobre os meus olhos,
é um rio imenso onde a dor escorre e me afoga num soluço.

Lanço novelos ao mar, bato à porta de estranhos,
anseio pela a minha libertaçao, devolvo-lhe a loucura
que me risca a testa, cicatrizo vazios.
Fecho os olhos e guardo a beleza no avesso do linho suado.
O seio d'Inez molda-se na mao do Infante.
Ele disse para ela correr e escreveu na agua o mar que lhe ia na alma.
Pétalas de prata tilintam no quadrante da janela,
anunciam o fim do abraço.
Ele debruça-se para a fonte e bebe-a.

Se eu fosse esse rio, lava-lhes o destino das suas maos infantis.
Adiava a morte, engolia-lhes a paixao.
Nos tumulos separados, um coraçao comum espreguiça-se até nos,
como adormecido.
Os amantes eternos, pairam por cima das coisas, como um mar antigo.
LM, julho de 2009