samedi 29 mars 2008

o jogo














Francisco desafia o olhar fixo do esquilo

a barrar-lhe o caminho.

Um suor frio escorre-lhe pelas costas.

Nenhum deles baixa os olhos.

Um ciclista atravessa-se pelo meio

e o bicho em três saltos, desaparece.

Francisco fecha a boca num risco curto.

Mau agoiro este de cruzar um animal

antes do poker na cave do Rahul!

La chegou frio e desfocado.

Perdeu até ficar enxuto.

Soletrou palavras desconhecidas,

andou e viu nascer o dia.

Perdido, sentiu os pés desparecerem

na bosta de um cavalo urbano.

Cantou para se curar do vicio das cartas,

seguindo o provérbio irlandês...

" when you are in the ... just si
ng ".

jeudi 27 mars 2008

De noite penteada ela volta o rosto para ausência


Duas personagens, uma mulher idosa, outra mais nova.

Alva e Curia.
Interior de uma casa, espaço aberto uma cama desfeita,
duas cadeiras, lâmpada suspensa, luz crua.



- Quando findar o frio…

- Eu sei. Nao precisas de dizer.

- Jà tenho o vestido e o lenço de seda a condizer.

- Sao sempre os mesmos Curia.

- Eles sao, eu nao, por isso parecem sempre diferentes,

como eu sou.

- Ja reparaste como o chorao se dobrou

com a ultima tempestade ?

- Ja.

Eu fui levantar-lhe umas braçadas e dar-lhe alento.

Faz-me bem dizer-lhe umas certas coisas…

ele nao me responde « eu sei … »

Nao leves a mal, é que durante o dia,

aqui no meio da casa, penso em tanta coisa,

tu nem imaginas, corre tudo para fora e nao lhe dou vasao !

- Eu sei…mas isso de ires falar com a arvore,

podes falar comigo, eu respondo-te.

- Nao sao respostas que eu gosto de ouvir.

As perguntas Alva, as perguntas que tu nao fazes

é que poem questao, percebes ?

- Quando findar o frio irei contigo buscar as pedras

e leva-las até là a cima.

Ainda faltam dois meses para o inverno acabar.

- Esta noite nao fechei olho…mas foi bom,

relembrei a viagem a Veneza com o meu namorado .

- Tu foste a Veneza com o teu namorado ?

- Fui, demos as maos e fechamos os olhos com força,

depois começamos a contar onde estavamos e o que viamos,

as igrejas Alva, os frescos , o sol na praça de St. Marcos

e os pombos a levantarem voo por cima das nossas cabeças.

Depois apanhamos o vaporetto para irmos até uma ilha,

nao me recordo do nome, havia um restaurante

com musica ao vivo e cogumelos grelhados como se fossem bifes !

Vinham num prato largo como uma de folha de platano,

e eram servidos com flores amarelas, fritas.

Ah, se tu soubesses como eram bons esses cogumelos

e as luzinhas a brilharem no fundo da laguna.

O meu namorado era tao bonito, tinha maos morenas e esguias,

sequinhas mesmo de manha enrolado no meu colo,

como seu fosse um outro gato. Mordia-me a orelha e …

- Eu sei…jà me tinhas dito que ele era engraçado.

- Também era engraçado, era muito mais que isso ele .

- Nao sabia é que vocês tinham viajado.

- Como sempre…sabes que eu viajo muito facilmente.

- Queres dizer que…ah, aquela coisa de pegares num livro,

fechares os olhos e ires por ali adiante sem travares.

- Isso, é uma boa terapia, devias experimentar.

A imaginaçao consola aqueles que nao souberam

amanhar o tal peculio.

- Estou muito bem assim, nao viajo pela cabeça,

quando tenho que ir a algum lado, vou e prontos.

- Vais e voltas sem demora.

- Eu …pois, nao gosto de estar fora muito tempo.

- Se tu soubesses por onde eu andei, so de estar ali sentada

à beira do colchao…

- Curia, deixa-me viver na realidade.

A tua cabeça é um permanente sitio

onde as fadas contam historias.

A minha, uma terra de areia negra.

Dei um abraço mortal à vida e fui ver se chovia

para o outro lado do mundo.

Nao acredito em graças obtidas com reconhecimentos

e maos dadas. Essas hà muito que as desenraizei .

Nao sujo a lingua no po do tempo.

- E de noite voltas o rosto para a ausência.

- Pois, é isso, também nao descolo beijos da parede.

- Como é que sabes que eu faço isso ?

- Observo-te à noite, quando nao consigo durmir.

- Sabes o que se diz…

» Nao se almoça com o diabo sem utilizar

uma grande colher ».

A força de olhares para mim enquanto sonho,

vais acabar sentada no colchao.

E se escrevesses o que dizes…um poeta, és um poeta Alva.

- Nao sou nada de especial, sou como tu me conheces hà anos.

Falo como penso, curto.

- Tu la sabes, gostas de cultivar em privado os aromas de virtude.

- Vou fazer um cha verde, queres?

- Preferia uma vodka... a temperatura ambiente,

seca. Até cortar a respiraçao!

Na Polonia bebia ao mesmo tempo a vodka

e o cha a ferver, herbata, dobja, djinkuié.

Foi uma outra viagem, essa foi de corpo, obrigada.

- Eu sei…desculpa, sabes que é um tique, nao ligues,

com bolinhos o teu cha?

- Dois, um de chocolate negro 99% e o outro chocolate branco,

abaunilhado.

Com leite creme, se tivermos claro.

Posso fazer desenhos com o garfinho .

- Sim, trago-te duas bolachas Maria.

- Também gosto, é mais virginal!'

( extrait) lidia , paris 2008

lundi 24 mars 2008

viciada no teu nome












" leio precipitadamente o teu nome riscado no meio de palpebras vazias.
O bule de chà estala num feitiço de ervas.

Uma peça unica do enxoval e partilhas.
aceito dar a cara neste mastigar viciado em teu nome.
fico tolhida no meio da praia.

Por detràs um espelho, contigo ausente.
o teu nome como um vicio talhado a gilette azul no meu pulso,
um sumatorio, o às da cicatriz.
Salgo as feridas e abro o olho mortiço.
Leio o teu nome tatuado no céu da boca, lambo-lhe a vogal.
vagueio viciada nele, repito-o, comentando-te."
LM, rennes, domingo de pàscoa 08

dimanche 23 mars 2008

o caminho dos lobos

no correctivo do silêncio:
- atençao, um santo pode esconder outro!
deus ausenta-se da vibraçao dos corpos corruptos pela morte.
as arvores conversam silenciosas com os vivos,
sangram lagrimas raivosas
e florescendo no momento propicio,
as rubras pétalas se rasgam de amor e de cio.
ainda existem bichos e flora que resistam.
andamos à volta com os ossos do poema,
os olhos envoltos em poeira.
- atençao, um santo pode esconder outro!
vamos criar enquanto é dia.
quando o coraçao devora o peito
e ameaça ser bocagemendo sustento,
quando subejam preces,escoando pela garganta,
gagueja ausente o teu nome,visto-me entao de avessos.
ai que tanto amor obriga!
abro o corpo e volto a cara de face
para resolvermos estas maos.
caminho de lobas, filho de pastor.
caminho de lobos, filha de pastor.
amoriono!
os olhos envoltos em poeira,
cansar a proposta.
amaramente, o mal amàvel.
LM, paris

lundi 17 mars 2008


Falas da Castro
Vieram leos, depois chegaram lobos, uma floresta tao densa, onde nem um lugar havia, onde os pés e as maos nao se apagassem no fugir!
Um lago largo de tojo e muitas flores amarelas....

Falas da Castro









Extrait de la pièce " Le reste est silence ":

Le bouffon, Martin :

- Ah! Le vent, sentez, sentez ce vent qui vient ce soir nous visiter.

Il nous glace le sang et nos pieds frappent en cadence la pierre humide.

C’est un baiser de nuit qui nous surprend, il glisse ses ailes froides

sur une main décharnée !

Aie, aie, aie … Inez se balance entre deux mondes,

son voyage prend fin au bout de cette allée.

Entre les lys vibrent des insectes pris au piège de la lumière.

Je suis celui qui a ouvert sa tombe, le temps souffre de la nuit éternelle.

Après le chœur des moines j’ai cru entendre la mer !

Oui, chaque chose regardait sa propre image,

tout devenait le miroir d’un autre et plus rien ne se fixait.

L’air sentait l’ambre et la résine, la mort aussi…

Il s’adresse à la Morte.

Dort, dort ma Reine, la quiétude du lieu

te convient-elle ?

C’est moi ton Pedro, nous sommes seuls,

je sens ton âme éclairant la mienne,

dans la mort tu écoutes mon désespoir.

Parler, parler, laisse ton pauvre roi te parler .

J’ai été ton loup, le bourreau qui n’a pas su t’épargner.

Dans mon royaume tu es deux fois reine.

Tout a été bon, tout a été béni !

Ah! Coimbra était notre mère, tout a fleuri,

les champs, les berges,

les places se sont remplies, le peuple te saluait.

Le fleuve éclairé par les torches s’inclinait vers nos pas

qui couraient à tes côtés.

Te voilà enfin, si proche dans ton éternité de pierre !

Cet amour me fait peur, le sommeil me prend…

Inez, cette nuit nous sommes frères,

deux oiseaux morts partageant le même nid

Até ao fim do mundo.

.

dimanche 16 mars 2008






Un pétale d’humour

J’appelle mes boiteux à mon secours,
là où la terre et le sable sont noirs.
Ils se nourrissent de baisers d’escargots,
bavant tout le long des petits grains bleus.
Ils connaissent si parfaitement ma folle pensée !

Les loups résistent au piétinement de la beauté.
Je sais que la poésie est une sorte de scandale,
qu’elle ne veut se laisser enfermer
dans les bouches gardées.

Le désordre est mon seul maître.

Là où le poids du corps fait son chemin
et sa marche, je m’équilibre.

Un pétale d’humour surgit entre deux pages
d’un livre.

Dans cette chambre d’hôtel, tout est silence.
L’abandon aussi.

Les lumières des fenêtres se font face.
Entre nous un couloir, un balcon étroit.

Infranchissable.

De l’autre côte il y a toi
et le secret ne se laisse pas chausser.

Allez, dépliez-moi.
L’aimantation des geste
me ramènent à la vie.
Je me réponds innocente
des quelques crimes
dont on m’accuse.

Lm, paris. 2007

samedi 15 mars 2008









Diario de uma bordadora de intimidades.

Assim, assim hoje.

A obscenidade da confissao, mostrar as costuras,

subir os vestidos, as bainhas,

desdobrar a pele, desenhar nela,

seguir o rastro das suplicas, porquê abafa-las?

Demonstraçao, prova, sinal, indicio,

mostra, manifestaçao, mais demonstraçao,

exercicio pratico, experimental,

serviço de prova entao.

Arco-iris, arco-da-velha, luminosidades.

Arrisquemos a boa distância.

O interior desta luz é que nos queima, vês ?

O corpo aos bocadinhos, discurso.

Moldes de abraços, de pernas, de maos,

de seios, de pés feridos, cansados.

Almofadas brancas e eles deitados nelas,

como ex-votos.

Cera.

Queimadura.

Vestido de noiva, encolado, arqueado,

ausente do corpo.

O sexo fendido, aberto.

Uma fotografia do rosto de um homem riscado.
Riscado por dentro, com a caneta bic, escurecido pelo fogo.

Vês?

Fogo, apaguaziamento, ritual.

“ De la nature et de la culture “, bon, alors c’est simple.

Uma mistura de dureza e de doçura, humor e de tragédia.

Uma transgressao do segredo,

da intimidade envolta em sombra,

do corpo e das suas historias.

Oferecer mais do que razao.

Incomodo.

Uma lingua estrangeira dictando a sua vontade,
em excesso, fora das medidas.

Barroco.

lundi 10 mars 2008

cactée, something poétique (extrait)















J'accueille ton geste amical, il fait si chaud...
sur mon épaule droite descend un essaim d'abeilles. Je ne bouge même pas le bout d'un seul cil. Ma peur d'enfant insomniaque attend la piqûre comme une délivrance. je vois jaune Autour de moi vibre le champ de blé de Vincent, du blé tendre, précoce, l'épi barbu du midi, de la touselle. Il emblave la peinture sur la toile on devient si proche de son geste que nos doigts bougent, seuls. L'huile devient velours et l'odeur est forte. Les corbeaux volent et crient dans le bleu profond du ciel, nos yeux roulent hallucinés Saigne l'oreille coupée du peintre suicidé. Rouges les corolles des coquelicots larges comme des robes de madame Grès. j'aime la soie brisée de leurs plis.

dimanche 9 mars 2008

les héroïnes penchés souffrent d'une belle définition




















Un garçon debout court dans la poussière
un matin plein d'oiseaux.
Julie
court au désastre, même si elle exécute sa disparition.
L'intime et le monde jouent de l'espace

et mon souffle court vers la plénitude de l'instant.

Comme dans des moments de pause,
les
héroïnes penchées soufrent
d'une très belle définition du corps
anthracite.
Li
vrées aux profondes marges de la connaissance,

les femmes ont comme option, de décoller les deux,
peau et sens. Un hêtre boisé est suspendu
au plafond
tenu par trois cintres en merisier.
Rien de tout cela fut facile à équilibrer sur l'accoudoir.
LM, mars O8

vendredi 7 mars 2008

desempregos...

*DESEMPREGO 1*
Violeta prepara-se para sair de casa.
Veste saia e casaco, como dantes.
Empurra o portao entalando um pé na dobra de ferro,
e numa pressao nervosa, deixa balançar o corpo.
Entra no jardim e cai na relva.
Violeta tem as maos pequenas, os dedos redondos
unhas rentes para melhor bater no teclado.
Abre os olhos para o céu até doerem.
Bebe no repuxo o esguicho de agua fria.
Lembra-se em menina a sede a roer-lhe a alma
e os dentes a estalarem!
Senta-se no banco e estremeçe.
Tem medo e começa por experimentar a fome,
para ver.

Desempregos...






Desemprego 2

A noite desenrola o linho sobre o corpo,

um lugar vazio pesa ao seu lado.

So ela o sabia procurar na noite.
Mal empregado desapego.

LM, Março 2008

Desemprego 3

Amilcar sai da fabrica com as maos pesadas.
Para no café da esquina e pede um copo de três.

Enrola o dedo na borda do copo e pensa em nada,

ou antes fosse.

O calor abafa-lhe a angustia.

Nao da pelo insecto caido no vinho,

engole tudo.

Sai rapidamente, sem graça e sem futuro
.

O patrao grita :

- Amilcar, pagas amanha !

Parecia que o tinham baptizado para que um dia,

aquele homem o salvasse num fim de tarde !

Fez um gesto amigavel com a mao, e acalmou o passo.

O corpo entrou-lhe nas pernas.


Lidia martinez

Março 2008

dimanche 2 mars 2008

um adeus perfeito















a infância prolonga sempre uma solidao anterior.
um grito na noite que so a mim me assusta
chega para afastar o mar.
afasto o mar com um so grito, e amo este amor
com cara de susto.
assusto-me na noite com um so grito e paciente,
aguardo que o mar se retire.
repentinamente assalta-me uma vertigem,
esquiço um desmaio,ganho uma promessa.
sei que entretanto se afunda no mar uma gaivota.

Carta de Salomé a Jokanaan


Ofereço-te a minha beleza e o tesouro de Herodes se aceitas posar os teus olhos em mim. Deixa-te seduzir por eles e goza desse entendimento. Eu sei desse teu palido corpo, perfeito, quase transparente... sofro de nao poder dançar sobre ele e tornà-lo assim real. O teu cabelo corre-te selvagem pelos ombros como a vinha bravia se enrola numa coluna de marmore frio. Quero esconder-me na sombra dos seus ramos ouvindo o terrivel segredo que esta noite nos prepara. Jokanaan, quando eu beijar a tua boca nos seremos malditos para sempre. Nao é dado a ninguém, nesm mesmo ao teu Deus de nous salvar. Na prisao és um passaro cego a cantar baixinho para afugentar medos. A noite é uma rainha coroada de luz, um teatro onde se aplaude a tua morte Os meus làbios roubam-te um ultimo assopro. Este beijotem o gosto amargo da minha desilusao. Salomé, NY,1993.

samedi 1 mars 2008

Pedro en colère, ou la chaise vide

Ta place est ici!
Ils viendront tous baiser l'anneau sur ton doigt
décharné où déjà des vers se promènent.
La mort mon amour ce n'est rien.
Je n'attends plus que le moment de te rejoindre.
Aujourd'hui c'est la haine qui me pousse à te placer
à mes côtés.
Pardonne-moi vivante dans mon coeur
tu as toujours rempli mon âme.
Pauvre portrait j'offre de toi ma reine!
A tous ceux qui n'ont pas su t'aimer de ton vivant
leur restera la chance de t'adorer morte.
Pedro, Paris 1986

Cartas de amor de Pedro e Inez

Para onde corre o teu cavalo nessa caça
que te distrai do meu colo?
Qual de vos se mantém nessa perseguiçao?
De sangue inocente serà feito o findar desse passo.
Esta historia se contarà para além do nosso " leito de espadas".
Tu nao sabes amor porque te vais sempre tao apressado e a névoa que cobre os meus olhos, é um rio imenso onde a dor escorre e se afoga num soluço.
Inez, Paris Janeiro 1994












Carta de amor de Pedro a Inez

Sem a tua presença amor,
as noites sao povoadas de mistérios que me arrancam o sono.
As minhas lagrimas procuram o teu consolo,
o meu corpo fica ausente escondendo-se da dor.
Nao tardes, o silêncio é um peso a fadiga também.
Eu sofro de tudo um pouco neste luto,
sem a tua presença sou uma corça degolada.
nao tardes que o verdugo nao està longe e levanta jà obraço mostrando a sua força,
na certeza do seu gesto brilha alâmina aguçada.
sê breve neste desencontro ae que a tua mao se faça ligeira no acordar do desejo que te guiarà até mim.
Inez, Paris, Janeiro 1994.