vendredi 30 janvier 2009

Para o miguel um poema em grito, para quê?

Ser Perséphone

[portrait-vertnoir.jpg]

abro este verso com um estalido.
provo-lhe a semente
e vou engolir o vacuo
esvaziando o mundo.
deixo-me ir pelo ralo
sem limpar à volta
o sedimento gira
e desaparece.
desfio o adesivo
abro a boca à ferida
sinto o cheiro azedo
que exala o sangue.
a cola pinta o rastro
dos pontos, o enigma
da cruz arrepela-me.
pernas para que te quero,
vou sair daqui depressa.
sou o grilo maior que a janela,
a espernear face a uma ingénua
crueldade.
o enigma da infância
desses dias perfurados,
como dedos nos gatilhos
a experimentarem os alvos
atirados ao ar.
Poule!
madrugadas em avanço,
sonhos apocalipticos,
mares levantados
com pontes estreitas,
e os meus pés a escorregarem
sobre no gelo das ondas.
vou cair agora mesmo
e tudo vai recomeçar,
paro com as dores
a pele alisa em estatua
sem po.
afasto a cortina no meio do frio,
desfeio, certa que vou renascer.
o rei absoluto provoca uma
alteraçao e acolhe-me
na concha.
Sou Vénus e arrebata-me
o coxo.
esperneio no fundo da terra
à espera de primaveras,
e a roma abre-se de novo.
posso florescer ao pé da minha
Deméter, usufruir da luz
escapo à chaga e ao fogo,
ao ferro ardente.
Sacudo e tranço os cabelos,
sabes?
Cubro a cabeça do cavalo,
amasso o pao e caio como o besouro,
de costas.
Recomeço entao o ciclo do nosso renascimento.


LM, 2 agosto, 08

dimanche 25 janvier 2009

como giestas


Como giestas bravas

Ateado o desejante aveludava a lingua

E o beiço devorando amoras quase azuis

de doce tinta, os dedos em farrapos nao sentiam

o rasgo no espinho.
Era todo em edredao violeta de sangue.

E ele , em lume ardia disforme

numa entropia oferecida aos deuses.


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O pensamento atravessa-me o olhar.

Despedimento

Ou inauguraçao de um novo dia

Num quebrar de palpebras.


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Esbatida no silêncio como o luto,

Uma pintura enigmàtica e paisagista de Balthus

Inclinando a Suiça, para o vértice mais abrupto do gelo.


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O vento assopra desmancha-me e leva-me.
fragmentada numa risca lasco o marmore.

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Amarrotar a ternura molhar a roupa

E perder-me na tempestade.

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O rapto da memoria

( … )

Limpo com a renda e enrolo tudo nela,

o dente e a pedra.

Quando eu arder no sulco càvico da mina,

Abrir-se-à entao o segredo espreitando o esmalte.
Coserei as palpebras entre elas abdicando do escuro

por fora.

Fico com a luz que me dou quando te penso.

Este espaço està desertado.

Vou-me integrar e sair pela cabeça.

Adeus agora.

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A sincope do rapto nao me poupa.
levo no dedo o corte e na agulha a linha, azul.


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Tenho quatro maos dentro de mim

a cozerem pao e a fiarem o linho.

Hei-de esperar o secar da macela,

fazer-te chà para te acalmar as visceras.

Planto beijos nas tuas coxas quentes.

Por instinto caço como um cao

e preparo-te um met digno das minhas preces.

Oficina bem o teu cantar, desvia a fenda

neste sangrar do meio do corpo.

Prova-me o agravo, limpo o prato com a lingua

e observo-te nos olhos.

LM, 2008

Dedadas em dois



Um ar inventado

Onde respiram dolentes

Aves brancas como anjos sem pés.

Deixam dedadas no espelho do quarto.

LM, julho 2008


Dedadas

A palavra nao cindida

em reverso da folha

com uma lagarta roendo

os cantos, domesticando

o fulgor, e ardem-me

os dedos, lambendo o sabor

da sombra.

A cal doi tanto !

Espanto o branco

pela parede.

Inciso o grito.

LM, Julho _08

samedi 24 janvier 2009

Dobro e sobro

Dobro e sobro

Uma pequena erva que seja

mexe, vibra, enrola

e esquece que o vento dança nela

e a deita sem conforto.

No assopro negro de uma noite sem cheiros,

dobro e sobro sob o desejo antigo

de um abraço que fosse.

Fome do real, aperto.

LM , Julho 08

mercredi 21 janvier 2009


castigo de domingo

Fui dar de beber aos pombos

e tocar ao de leve
no cheiro das rosas.
Abri o cetim, rasguei a seda,

percorri com o dedo o sentido do fio,
cerrei a boca e ouvi-lhe o grito.
Depois empurrei a mao contra os picos das rosas

e nao senti nada.

Voltei a uma insensibilidade do corpo infantil,

uma perfeita regressao que me deixou perplexa.

Naquela tarde de domingo,

onde vim dar de beber aos pombos,
fui pelos sentidos,
encontrei
o cheiro antigo dos bichos
enrolados
num poema de fim de tarde.


LM,
3O de julho, 2008

lundi 19 janvier 2009

O desejo e a desejada


Na rua da escrita passam impares,

o desejo e a desejada.

O rei escolhe-nos.

O rei acolhe os amantes

deitados no azul da agua.

A pedra de leite aquece-lhes a cama.

Um livro de areia desfolha-se num po

rouge-venise.

Coraçao por ti mordido é suspeito.

O corpo da ruina imprime murais,

as nossas sombras viajam na luz.

Sinto um frio intenso neste casar.

( ... ) extracto de pedra de leite.

LM, 2008

vendredi 16 janvier 2009

Três contos


DESEMPREGO 1

Violeta prepara-se para sair de casa.
Veste saia e casaco, como dantes.
Empurra o portao entalando um pé na dobra de ferro,
e numa pressao nervosa, deixa balançar o corpo.
Entra no jardim e deixa-se cair na relva.
Violeta tem as maos pequenas, os dedos redondos
unhas rentes para melhor bater no teclado.
Abre os olhos para o céu até doerem.
Bebe no repuxo o esguicho de agua fria.
Lembra-se em menina a sede a roer-lhe a alma
e os dentes a estalarem!
Senta-se no banco e estremeçe.
Tem medo e começa por experimentar a fome,
para ver.

Desemprego 2

A noite desenrola o linho sobre o corpo,

um lugar vazio pesa ao seu lado.

So ela o sabia procurar na noite.

Desempregos. LM, Março 2008

Desemprego 3

Amilcar sai da fabrica com as maos pesadas.
Para no café da esquina e pede um copo de três.
Enrola o dedo na borda do copo e pensa em nada,
ou antes fosse.
O calor abafa-lhe a angustia.
Nao da pelo insecto caido no vinho,

engole tudo.

Sai rapidamente, sem graça e sem futuro.

O patrao grita : - Amilcar, pagas amanha !

Parecia que o tinham baptizado para que um dia,

aquele homem o salvasse num fim de tarde !

Fez um gesto amigavel com a mao, e acalmou o passo.

O corpo entrou-lhe nas pernas.


Lidia martinez

Março 2008

mercredi 14 janvier 2009

dois no chao


dois no chão

dormes como o Rei do Absoluto,

meu esquilo,

cuspo nos dedos

para te roçar depois a fronte,

benzendo-te.


esfrio nesta espera,

afasto a cortina,

aqueço-me na tua lã.


disfarçado de morto

para que te deixe,

entristeces o meu coração.


lavro as horas com o meu silêncio,

ventura melodiosa

exalta-me os sentidos,

por instinto penso :

« carne de cão »

e abocanho-te firme.

afinal o cadáver estava desfeito,

era só um esmolar de cobertores tisnados

de amores desfeitos, esfomeando-me

com o teu cheiro.

na madrugada esperançosa,

rio em mim.

LM, 2008


( publicado em dezembro 08)





dimanche 11 janvier 2009

as maos inquietas


A oficina do vento
De mao inquieta, acamada,

num jeito nervoso, desfaço
a falsa prega no lençol a meio do leito.

Apraz-me o seu frio e os fios de linho
ai bordados.

No lugar do rosto surge o espectro da noite antiga.

Apoio o cotovelo na almofada
descanso o resto do braço,
enquanto me ferve a fronte.


Em pano de fundo, oficina o vento:

Traz aromas de banhos quentes
lavanda e tomilho, abonando
este caminho evoco-te suado e nu,
distante.

Melhor assim, partiràs antes de madrugar-me o sol.

( publicado em dezembro 2008)

LM, 28-12-08

samedi 10 janvier 2009

Le silence sera mon espace accueil


Le silence sera mon espace d’accueil

Sur ta poitrine s’imprime le relief
l’écorce d’un grand arbre.
Mon poing frappe droit dessus.
La sève coule, elle est mon sang aussi.
Tes yeux roulent dans les miens.
Nous sommes si bleus et complices,
Le silence dort, je veille sur toi.
On peut dire la beauté en gardant le silence.
Aujourd’hui nous vivons une mort automnale.
Ta chaleur entoure mon dos, tu creuses.
Mon souffle attends l’ordre et la caresse.
Et tu trembles comme un oiseau
sous le gel du matin.

LM

mardi 6 janvier 2009

La Fontaine des amours



Amigos,

dia 7 de janeiro de 1355
a Inez de castro foi assassinada...
aqui fica um pequeno pensamento
para esta bela e triste historia,
em forma de carta de amor.

Pedro,

Me voici prête au dernier adieu, puisqu’il allège le peuplier
de ses feuilles sombres, tardives.
Il y a des roses qui habillent ma gorge de satin parfumé.
L’odeur m’apaise et la nuit
rentre en moi par la bouche
Et fait éclater ma poitrine.
Ma peur se roule à tes pieds,
se cache sous la terre que tu parcours
Je suis l’oiseau poursuivi par les chiens d’un roi
qui ignore tout de la passion.Un insecte apeuré
et ses ailes me crucifient à un destin
qui s’écrit par-delà un lit de pierre dentelée.
Je demande au vertige de ne pas rougir l’eau de notre fontaine,
qu’il tarde de le faire.
Le quart de lune décroisse encore sous le lourd
témoignage de ce crime.
Il est le seul témoin de cet abandon.
L’adieu est l’oraison que je répète au temps
qu’ils me volent, à la vie qui me reste.
Ma bouche ne bouge pas, elle boude.
Pedro, ne laisse pas la trahison
lever le poignard qui menace ma quiétude.
Reviens et protège-moi de tout ce qui me tue.
Fais-vite, le diable me colle son pas,
il me glace le visage de ses doigts impairs.

Inez, Paris Juin 1997

jeudi 1 janvier 2009

BONANéééé!!!!!!


Como disse o >MIGUEL_______________
Bons Ecos de Ano Novo , que este seja o ano das Danças solares,
dos TeatrosBeckettianos e Pinterianos, de todos os que nos fazem
sentir mais vivos e menos esqueçidos...
as palavras esperam-nos para serem ditas!
Beijos e amor aos molhos daqui deste Paris cinza,
em crise...allez, soyons FOUS!
Paris n'est plus votre Paris , amigos , mas é com ele que eu vivo!
Abraços,
lidia
LM

rasgo os traços



solto-me inteira, dispo-me neste voo
com artes de deusa caprichosa,
rasgo a bainha , rompo a nuca.


acaricio a noite e redingoto a duvida







L'encre vieillie dans l'eau


uma cançao à espera do silêncio