samedi 30 mai 2009

Numa renda de orgulho

La Reine revient pour changer son destin,
chaque fois elle nous place face à l’infini.
Elle s’arrache au marais intemporel de l’oubli
et nous place face à sa chute.
Dans le chaos vibrent les corps qui suivent
et portent leurs archéologies.
On vit alors une expérience du baroque qui façonne sa main
dans l’argile du temps.
Inez comme un faucon aveugle déploie les ailes et suit le vent.
Derrière roulent les ponctuations éphémères de l’histoire.
Pedro l’habille de soie verte pour la dernière des parades.
Elle remonte les marches et déjà l’oiseau se meurt par la bouche.
Son dernier baiser aura le goût des cendres.

LM 09








samedi 23 mai 2009

Dobro e sobro


Como giestas bravas

Um ar inventado

Onde respiram dolentes

Aves brancas como anjos sem pés.

Deixam dedadas no espelho do quarto.


O pensamento atravessa-me o lhar.

Despedimento

Ou inauguraçao de um novo dia

Num quebrar de palpebras.


Esbatida no silêncio como o luto,
Uma pintura enigmàtica
e paisagista de Balthus

Inclinando a Suiça, para o vértice mais abrupto do gelo.


O vento assopra desmancha-me e leva-me.

fragmentada numa risca lasco o marmore.



Amarrotar a ternura molhar a roupa
E perder-me na tempestade
.

LM, 2008

A sincope do rapto nao me poupa.
levo no dedo o corte e na agulha a linha, azul.


Tenho quatro maos dentro de mim

a cozerem pao e a fiarem o linho.

Hei-de esperar o secar da macela,

fazer-te chà para te acalmar as visceras.

Planto beijos nas tuas coxas quentes.

Por instinto caço como um cao e preparo-te

um met digno das minhas preces.

Oficina bem o teu cantar, desvia a fenda

neste sangrar do meio do corpo.

Prova-me o agravo, limpo o prato com a lingua

e observo-te nos olhos.

LM, 2008

mercredi 20 mai 2009

Des mains habiles

« Ô douces querelles d’amants, roulez sur ma peau,
offrez-moi votre distant passé, attendrissez mon cœur.
Ma raison possède des mains moins habiles que vos récits.
De l’eau sur de l’eau coule et emballe ma nuit.
Brisez l’horizontale attente qui me couche, offerte aux regards de tous.
Libérez mon âme, laissez-moi emballer mon amant, son masque,
pour écouter le jugement qui nous rendra au monde face à face,

Até ao fim do mundo. «

Inez, Lisbonne , 25.O6.O1

...( ...) Julguei mal a minha força, o cansaço fez-me prisioneira
cosendo-me a este espaço onde me guardas do mundo.
Adeus amor, o meu peito jà nao chora de te ver partir
e o meu braço é uma asa desprendida que te acena lentamente.
Senhor, eles jà me mataram antes do punhal.

Inez, Paris, Fevereiro 1994

Cartas de amor de Pedro e Inez

Me voici prête au dernier adieu, puisqu’il allège le peuplier

de ses feuilles sombres, tardives.

Il y a des roses qui habillent ma gorge de satin parfumé.

L’odeur m’apaise et la nuit rentre en moi par la bouche

Et fait éclater ma poitrine.

Ma peur se roule à tes pieds,

se cache sous la terre que tu parcours.

Je suis l’oiseau poursuivi par les chiens d’un

ignore tout de la passion.

Un insecte apeuré et ses ailes me crucifient à un destin

qui s’écrit par-delà un lit de pierre dentelée.

Je demande au vertige de ne pas rougir l’eau de notre fontaine,

qu’il tarde de le faire.

Le quart de lune décroisse encore sous le lourd

témoignage de ce crime.

Il est le seul témoin de cet abandon.

L’adieu est l’oraison que je répète au temps qu’ils me volent,

à la vie qui me reste.

Ma bouche ne bouge pas, elle boude.

Pedro, ne laisse pas la trahison lever le poignard

qui menace ma quiétude.

Reviens et protège-moi de tout ce qui me tue.

Fais-vite, le diable me colle son pas,

il me glace le visage de ses doigts impairs."

Inez, Paris Juin 1997


samedi 16 mai 2009

carne de cao



meu esquilo,
cuspo nos dedos
para te roçar depois a fronte,
benzendo-te.
esfrio nesta espera,
afasto a cortina,
aqueço-me na tua la.
disfarçado de morto
para que te deixe,
entristeces o meu coraçao.
lavro as horas com o meu silêncio,
ventura melodiosa
exalta-me os sentidos,
por instinto penso :
« carne de cao »
e abocanho-te firme.
afinal o cadaver estava desfeito,
era so um esmolar de cobertores tisnados
de amores desfeitos, esfomeando-me
com o teu cheiro.
na madrugada esperançosa,
rio em mim.

" carne de cao "
do manuscrito:
" dobro e sobro "
27-12-2008 M, Paris


vendredi 8 mai 2009

Hoje, a minha carta de amor...


UMA CARTA DE AMOR NUM CORPO DE APONTAMENTO UNIVERSAL

Uma lingua fora da Historia.


A vibraçao da vida esta para além do silêncio.

A lenda atràs do mito é uma palavra exposta,

Uma a lingua fora da historia.

A tragédia reside numa espécie de infinito.

O mito resiste ao movimento da roda da fortuna

Que enrola e pica,

Obliquando a narraçao .

Fica a renda de orgulho suspensa no abismo

Que a dança provoca.

Ficamos suspensos, abrindo à historia

O nome dos amantes.

Voltarei entao com o mar nos braços,

Para lhe lavar o corpo e devolver-lhe

o rosto mordido pelo cao.

“ Branca e leve, leve e pura…”

Inez, cénicamente ressuscitada existe na mascara

Que me oculta.

Somos multiplos, continuamente.

LM, 6 de Maio de 2009-05-06 Paris


LMartinezdansethéâtrecie

lmartinezcie@yahoo.fr

www.autre-cas.blogspot.com

www.cartasdeamordepedroeinez


mardi 5 mai 2009

objectos reais...









Objectos reais entre os vivos

Observo os objectos como corpos reais no tempo.

Contam-nos a nossa historia em cima do aparador.

E gasto uma hora apertando o pulso nessa corrente.

Basta-me ciciar o que oiço atràs do espelho.

No oval do rosto sinto a boca amuada a desfazer-se,

gasta de trazer-me à vida todas as manhas.

Ouves-me do outro lado ainda que vivo?

Acontece-me ainda procurar-te entre os bùzios.

Pacé. 31.06.08