mercredi 30 juillet 2008

A Barca dos infernos

Um drama singular,
uma atroz dilaceração,
um grão de arroz fendido
obliquando a face mínuscula
e opaca do desperdício.

Sobrevivemos juntos,
como um só corpo,
neste quarto de agonizante.
Sacrificio natural de um ser
desviado do sol.

Cresce-nos dentro da alma,
ao de leve,
a pena descaindo da sua asa.

Inclinando a escrita rente à pele
fica escrito pela unha,
a rima juneira e festiva.

Ficamos amplamente desconhecidos,
de olhos esguios como gatos na noite.
Respiramos sem nos vermos,
ignorando o rumo lutuoso da barca.

Julho, 17.
08

dimanche 20 juillet 2008

gostas de amoras?

Ateado, o desesperante
aveludava a língua
e o beiço devorando
amoras quase azuis
de doce e tinta,
os dedos em farrapos
nao sentiam o rasgão
no espinho.
Era todo um edredão
violeta de sangue.
E ele, em lume
ardia disforme
numa entropia
oferecida aos deuses.

17 de julho 08
lisboa

mardi 1 juillet 2008

um adeus perfeito















Rocei-te a face como se fosses um filho meu

ou um irmao criado junto ao seio gémeo
da mesma mae.


a minha fadiga nao é partilhavel.

" um adeus perfeito" ediçoes ulmeiro, 1994.