mercredi 27 février 2008

les pommes de terre



une bouée.
à tout craindre.
pourquoi?
je vous relis le texte du soir.
plutôt achevé, mieux je me porte.
la marée venue, je me livre,
à tout craindre.
soif, j'ai soif, je suis livrée, délivrée...
je me tâte.
les pommes de terre germent
sur la table de nuit,
elles me regardent.
mes yeux sont ce qu'ils regardent,
alors je suis ça aussi,
ce qui germe un peu plus loin.
je ne vois plus,car je ne connais que mon coeur et là,
j'ose.
LM, février 2008.

samedi 23 février 2008

PRINA


Pedintes e crentes chegaram convulsos ao cimo do O. A estatua de cera de Nossa Senhora, se consumia tal qual uma vela, se o povo pecasse mais que razao. As mulheres entoavam um cântigo agudo. Na sacristia preparava-se uma bebida santa, agua com mirra para os mais necessitados. Das colunas escorriam estreitas algumas guirlandas. Um ar morno corria pela capelinha. De repente a santa surgiu como ovo ao sol. Prina ajoelhou-se e pediu um golo de agua benta e olhando a virgem,notou-lhe que uma lagrima lhe atrapalhava o beiço. LM,déc. 2007

Baptismo fatal


Foi num alivio de açucenas que Abigal venceu aquela angustia de fim de tarde. Cerrou os olhos e deixou que aqueles perfumes lhe agoniassem a alma. Tonta, acreditou na balsâmica cura e ali ficou prostada, no meio do jardim. Antes de voltar ao mundo, apertou as maos e os seus dedos estalaram, ela sorriu entao. Era hora de vésperas e oraçoes. Gostava de pensar que as regras so faziam sentido para justificar alguns males inexplicaveis. Avançou para o rio e cruzou Zulmira que fazia jà uma reza, caminhando. - Vais à capelinha?- perguntou. - Vou e tu? - Eu vou ao baptismo. Ambas se riram e Abigal sem pudor algum, despiu-se e entrou nua e rija naquela agua gélida. Zulmira jà desaparecia na dobra do muro. Foi a descrente enrolar-se no fundo, ficando visiveis os seus cabelos, enrolados num ramo livre. O vestido foi parar à Zulmira que o gabava tanto! A partir dai nunca mais pedinchou nada à Senhora, jà que de vez ela tinha levado Abigal, deixando-lhe um bem que lhe assentava como uma luva de senhora fina. Mas Zulmira nao soube mais como se desapegar daquele rio, das suas margens. Ali ficava horas a bichanar e lutava com o terrivel apelo que lhe fazia a agua, murmurando, dizia ela o seu nome como um canto profundo, vindo direitinho da garganta do mundo. LM,8.01.08

vendredi 22 février 2008















FIAT 500

Um homem tinha um carro de estimaçao.

Chamava-lhe" mustang cor de sangue".

Todos os dias ele descia à rua
e dava-lhe uma patine
com o vernis
" Blood-red color".

A sua pequena joia, ou sonho encarnado...

era um Fiat 5OO jà sem rodas.

O homem envelheceu, o carro enferrujou,

mas ele là ia dando,
quando podia,
uma camada naquela unha de sangue.
Um dia o homem finou.

O sobrinho, um artista conceptual,
herdou do objecto de culto.
O ano seguinte, numa importante Bienal,

expôs o carro com o titulo:

" Mustang blood-red color"
( pintado com o vernis das unhas n° 54).
Ganhou o prémio Marcel Duchamp em Paris,
em 2006.
LM, dezembro 2007.

jeudi 21 février 2008

"c'est sans fin"!
au REGARD DU CYGNE


Lidia Martinez & Isabelle Dufau
*« C’est sans fin »

D’après les tableaux du peintre portugais Paula Rego et du texte de Lidia Martinez.

" Deux femmes se préparent à des rituels sans âge. Elles nous font glisser dans l’intemporalité des rencontres, leurs visages masqués. Petites filles sages, savantes et diablesses, elles tricotent le temps et la surface des mots. Les absents écoutent si prestement, ils nous accompagnent."LM.

Artiste chorégraphique, Isabelle Dufau s’est formée à la Schola Cantorum puis aux RIDC. Elle part s’installer au Brésil de 1987 à 1996 où elle enseigne la danse contemporaine et danse pour la chorégraphe Holly Cavrell. Elle y développe un travail de recherche autour du mouvement pour lequel elle reçoit plusieurs prix chorégraphiques. De retour en France, elle reprend sa formation aux RIDC et obtient son DE en 1999. Elle poursuit son travail de création artistique, mais privilégie son travail d’interprète, dansant pour la compagnie Dominique Dupuy à Paris et la compagnie Laurence Saboye à Montpellier.
Elle travaille avec la chorégraphe Lidia Martinez depuis 2001, participant à plusieurs de ses créations à Paris, Porto et Lisbonne.
Son parcours artistique a été enrichi par la Formation Supérieure en Culture Chorégraphique, dirigée par Laurence Louppe et la Formation Supérieure en Rythmes du Corps dirigée par Françoise Dupuy.

Née à Lisbonne, Lidia Martinez est diplômée en arts plastiques, elle a suivi les cours de danse à l’opéra de S.Carlos, fréquente l’école de mime Magénia à Paris, les stages de Tamasaburo Bando, Nadj, Michael Lonsdale, Edith Scob, Aperghis, Carlos Wittig, Nena Venetsanou… Participe au film de danse avec l’Esquisse « la Noce ». Auteure, chorégraphe, interprète, plasticienne, elle crée une cinquantaine de pièces depuis 1981. Elle représente la danse française au « made in France » en 1989, à l’ADF, Jacob’s Pillow, travaille et vit à New York, y présente cinq spectacles à la Judson Church, au Dia center for the Arts… Elle travaille au Portugal et représente la danse portugaise au Centre Georges Pompidou en 1997 et 1998. Individuellement elle expose à Paris, Lisbonne, New York. Elle crée « L’exil se fait à l’intérieur de ma bouche », installation-performance, en 2000, avec l’édition d’un CD-rom, « la catharsis de l’amour » en résidence au Centa, projet d’écriture chorégraphique et de land-art dans le site. Elle anime le « Bocal Portugais » à Gare au Théâtre, 42 artistes qui créent in-situ pendant trois jours. En 2005 elle tourne au Portugal pour les 650 années de la mort du mythe portugais de la « reine morte ». Elle fait des interventions dans les halls de théâtres, crée « autre-cas », un solo en 2006.
Elle publie deux livres de poésie, ses textes sont visibles dans la revue
« mouvances ».















 DANSE
LES SAUVAGES (nouvelle formule)
Une formule toujours ludique et surprenante,
composée de formes

courtes
en danse contemporaine...
JEUDI 13 MARS 15h00 & 19h30
Lidia Martinez et isabelle dufau


studio le Regard du Cygne
210 rue de Belleville
75020 Paris
www.leregarducygne.com
Consultez notre newsletter :
http://www.leregarducygne.com/autres/news_fev_mars.html


dimanche 17 février 2008

a samarra do tio



A samarra do tio

Este bem soa a demais.
Habituado a ficar em conta, minguando a lingua,
Galante entrou na carvoaria e rezou para que tudo
fosse verdade.
Vestia a samarra do tio, um presente em segunda-mao.
Era de poucas falas e nada ou pouco desejava.
Sentiu subir o calor de tontura consumir-lhe a carne.
Se ela viesse agora romper neste escuro,
o preto sujo nas mangas,
no colarinho, nas unhas…
E correu feito louco, lavar-se no rio.
Esfregou-se até ficar bem limpo.
Enxugou ao sol como roupa lavada
e sonhou que amava Cruz.
Mesmo depois de velho, Galante guardou
no peito quebrado, o amor e o desejo.
Cruz acabou jogada na fogueira,
enrolada na tal samara...
O tio passou-se, um ataque de ciumes !
Foi uma tragédia consumida.
Quando lhe falavam no drama,
Galante mordia o beiço e escondia as unhas pretas,
mais dorido que traido.
Tinha alinhavado por dentro das algibeiras,
alguns recados amaveis.
A vergonha nao se descose tao depressa,
e cruzou a perna sentado ao relento,
à espera da noite.

lidia martinez
Pacé, 1 de junho 2008
extracto

lundi 4 février 2008

clemente, o simples













clemente, o simples

Clemente saiu de casa como um anjo menor,
sem lenço.
Cantava desafinado mas feliz.
Depois era com grande sede e alivio,
que bebia sôgrego,
o espirro de agua, da fonte do jardim.
Limpava os beiços com a manga e empoleirava-se
nas grelhas velhas do coreto.
Contava até trinta e deixava-se cair, exausto.
Esfregava as calças poidas destes usos e andanças.
Era tacanho e estagnado, diziam-no simples.
Todos aqueles que lhe estendiam a mao,
eram como familia.
Empoeirado, sacudia-se, ondulava as costas
como um bicho menor.
Dizia-se entao que isso era sinal de chuva.
Lm, dezembro 07.