revista de micronarrativas
tema do mês de fevereiro: superstiçao
podem ler este meu conto:
Rodelinda, entre os inùmeros outros textos
de contistas lusofonos!
merci
LM
RODELINDA
Rodelinda olhou-se no espelho e coincidiu com a imagem.
Quando eu morrer, pensou, o que morrerá comigo ?
De mãos crispadas na saia, rangeu os dentes sólidos.
Fazia uns estalidos estranhos com a língua,
como se o tique lhe aliviasse a tensão que lhe
percorria o rosto.
Se eu fechasse os olhos e tudo desaparecesse ?
Um gesto de despedimento arrancou-lhe
uma unha sem gemer.
Quebrou as pálpebras, ampliou a boca num esgar.
Endireitou-se, limpou a fenda de rubro fogo,
julgou mal o acontecido.
O homem deitado, respirava sem ruído.
Agarrou-lhe o cinto e escondeu-o na gaveta.
Escapou pela janela e resolveu caminhar de pés descalços.
Equilibrando-se na borda do passeio,
repetia o pensamento mórbido que lhe ia na alma:
se eu escorregar agora e pisar o asfalto,
chego a casa e ele está cego, cego e morto.
Como um animal marinho abismado num rochedo,
ela percorreu a distância sem queda alguma.
Aliviou o corpo e atravessou a estrada.
Lidia martinez
26-12-2008
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