O Avé-Maria
Na parte oriental da cidade
havia um campo seco
onde se ouviam gafalhotos saltar
entre os ramos, estalando as patas
em mimetimos loucos.
O Avé-Maria chegou aquele deterro,
de botas pesadas
Arrancou ervas e ramos,
decasalando arbustros
e numa vadiagem de canas,
foi encontrar um paraiso de azedas.
Sentou_se com o Três-pernas, rafeiro de qualidade,
pelo ruivo, olho esquerdo vazio.
Ali ficaram até ao sol baixar.
O Avé-Maria lembrou-se da prisao
e como se lhe tinham secado as lagrimas.
A sua tatuagem abriu-se entao
como um livro antigo.
LM.
( Paço d’Arcos , déc. 2007)
FIAT 500
Um homem tinha um carro de estimaçao.
Chamava-lhe" mustang cor de sangue".
Todos os dias ele descia à rua
e dava-lhe uma patine com o vernis
" Blood-red color".
A sua pequena joia, ou sonho encarnado...
era um Fiat 5OO jà sem rodas.
O homem envelheceu, o carro enferrujou,
mas ele là ia dando,
quando podia, uma camada naquela unha de sangue.
Um dia o homem finou.
O sobrinho, um artista conceptual,
herdou do objecto de culto.
O ano seguinte, numa importante Bienal,
expôs o carro com o titulo:
" Mustang blood-red color"
( pintado com o vernis das unhas n° 54).
Ganhou o prémio Marcel Duchamp em Paris,
em 2006.
LM, dezembro 2007.
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