Vicios Briquita deixava-se estar à janela horas a fio. Anca vencida à esquerda, pé descalço e unha acerada a riscar a barriga da perna, devagarinho. O corpo adormecia desapegado no encombro do parapeito. Nao sabia contar o tempo que ali passava. A tristeza era infinita e sereno o prazer que nao escondia. Trazia na face a mascara do vicio e da queda. O resultado fora imediato…o marido dera o fora, era um mà–rolha, ela descaira. Deixou-a com a bufarra a margiar-lhe o sexo e com muitas petas a tinha mantido presa. Depois de muito seresmar, Briquita decidira mostrar o retrato que lhe ia na alma. Absorta no seu cismar, nem dava conta do pecado duma tal melancolia. Secou ao sol e ao vento, com o olho aveludado e o desassosego a pintar-lhe o retrato. LM, 16 de março de 2008 |
lundi 28 avril 2008
mardi 15 avril 2008
audaciosa é a minha fraqueza
Amaramente
sinto pousado em mim o olhar obliquo
de quem usa màscara
no quarto escuro os pos dourados
sao beijos de insectos estremunhados
por um sono secular hoje provoco o encontro,
obtenho assim o vento menos a caricia.
cavalo cansado
Profundo o segredo
nao procuremos de onde vem
o antigo saber lidar um com o outro
esse tempo jà foi consumido
podemos criar um novo conjunto de provas
e tirar os nove fora a nada,
a tudo os erros combatem-se nada fica pra tràs
a nao ser um simple vinco na cara de lado
a lamber o peso os anos sulcam-nos de surpresa
rompendo a asas que nos protege
envolvendo as noites que nos dao os dias
em que jà nao sei se espero ou se anulo a mesma
estou de volta e resfolgo como um cavalo cansado
as ras retiram-se, està a nascer o dia.
para voltar ao mundo
entre o corpo e a parede, deixo de respirar enxovalho a camisa de noite, subindo-a tem punhos brancos, descosidos, falta um botao deixo de estar suspensa, meia- nua fico ali sem tempo, demorando-me, escorrego até meio, so volto a cara espalmada, nao me vejo ou sinto nesse momento tao a desproposito qualquer dessas imagem é fixa embora a lentidao do instante me deixasse o lazer, imaginando a personagem que desmaia acordada se desdobra fora dos lençois com a câmara a captar à volta estou sentada no corredor, como cheguei aqui? a camisa esticou até aos pés e no fundo agito o pensamento pra voltar ao mundo nao emiti som algum, nem a rastejar digo entao: - vem comigo respirar este caminho -nao posso, respondes insisto com o bater de leve dos meus dedos no teu ombro: - jà nao nos obedecem as palavras sensatas é hora de estampar no mapa a mao toda, oferta uma bofetada geografica apontando o sitio de um encontro longinquio.
mercredi 2 avril 2008
de pulso aberto sublinho o gesto de riscar as palpebras queimando alfabetos nobres na retina. Babel estaria nesse "babiar" escondido. Vou além buscar a luz, atràs dos olhos. Abro uma fenda ruindo a impressao màgica de luz e suas sombras. Um sudàrio, mesmo falso, serve para cobrir o que me resta de corpo, um espaço de osso e musgo, magoando-me o braço. Enquanto a humidade do dia principia na luz, a brisa bafeja a terra e um cilio escuro aponta o sol. Morro de pulso aberto.
Raizha
No pior dos frios Raizha soletrou palavras desconhecidas e foi perdendo os dentes como perolas de um colar desfeito. Um peixe amargo chegou na maré, tarde demais para escalar ou salgar o conduto. O vento desmanchou-lhe o corpo. Viu depois a fome saltar como coelhos gigantes perseguidos por lanças certeiras. Caiu de borco à beira-mar com o sol deitado na agua. Ouvi os afogados cantarem so com os lhos. Estranhos anoes de pedra romperam longiquos comos farois. A maré lambeu Raizha até nao sobrar nada. O rastro de uma anel teimoso num dedo inchado, deu à costa para là do pontao. LM, mars 2008
mardi 1 avril 2008
Vicios
Anca vencida à esquerda, pé descalço e unha acerada
a riscar a barriga da perna, devagarinho.
O corpo adormecia desapegado no encombro do parapeito.
Nao sabia contar o tempo que ali passava.
A tristeza era infinita e sereno o prazer que nao escondia.
Trazia na face a mascara do vicio e da queda.
O resultado fora imediato…o marido dera o fora,
era um mà–rolha, ela descaira.
Deixou-a com a bufarra a margiar-lhe o sexo
e com muitas petas a tinha mantido presa.
Depois de muito seresmar, Briquita decidira mostrar
o retrato que lhe ia na alma.
Absorta no seu cismar, nem dava conta do pecado
duma tal melancolia.
Secou ao sol e ao vento, com o olho aveludado
e o desassosego a pintar-lhe o retrato.
LM, março O8.
Les oiseaux tombent dans le puits
Il y a longtemps Dieu a peint l'oiseau sur le fond du ciel
après avoir dévié un rayon de soleil couché au plus près de Lui.
Il a levé l'index à la hauteur de Son oeil et la vie fait la roue
autour du ventre de l'animal.
Mille yeux sont apparus sur le manteau de plumes,
des vues supersticieuses surveillant le cour des fleuves, l'écume...
ou la plus verte et fragile des feuilles du roseau.
La beauté du monde l'a frappé au plus près du bleu
éclatant de son front, j'ai tant pleuré.
et de chaque larme versée un être vivant est apparu
peuplant le monde.
En eux, la folie poétique de l'amour, le tragique destin d'argile,
l'empreinte abandonnée d'une soif sans nom.
( ...) Rouges, l'éclat du sang et la mansuétude de l'eau.