A Barca dos infernos
Um drama singular,
uma atroz dilaceração,
um grão de arroz fendido
obliquando a face mínuscula
e opaca do desperdício.
Sobrevivemos juntos,
como um só corpo,
neste quarto de agonizante.
Sacrificio natural de um ser
desviado do sol.
Cresce-nos dentro da alma,
ao de leve,
a pena descaindo da sua asa.
Inclinando a escrita rente à pele
fica escrito pela unha,
a rima juneira e festiva.
Ficamos amplamente desconhecidos,
de olhos esguios como gatos na noite.
Respiramos sem nos vermos,
ignorando o rumo lutuoso da barca.
Julho, 17.
08
mercredi 30 juillet 2008
dimanche 20 juillet 2008
gostas de amoras?
Ateado, o desesperante
aveludava a língua
e o beiço devorando
amoras quase azuis
de doce e tinta,
os dedos em farrapos
nao sentiam o rasgão
no espinho.
Era todo um edredão
violeta de sangue.
E ele, em lume
ardia disforme
numa entropia
oferecida aos deuses.
17 de julho 08
lisboa
aveludava a língua
e o beiço devorando
amoras quase azuis
de doce e tinta,
os dedos em farrapos
nao sentiam o rasgão
no espinho.
Era todo um edredão
violeta de sangue.
E ele, em lume
ardia disforme
numa entropia
oferecida aos deuses.
17 de julho 08
lisboa
mardi 1 juillet 2008
um adeus perfeito
Rocei-te a face como se fosses um filho meu
ou um irmao criado junto ao seio gémeo
da mesma mae.
a minha fadiga nao é partilhavel.
" um adeus perfeito" ediçoes ulmeiro, 1994.
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fotografia: instalaçoa " catharsis do amor"
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