dimanche 22 novembre 2009
Lavra
Nao tinha uma perna, nascera assim, mutilada.
Diziam que era verdade ela ser meia-filha de um diabo,
que por ali caçava as mulheres, na noite.
A mae, nao conhecia, ninguém lhe sabia a morada.
Fora abandonada em cima de uma lage, nua e sem uma perna.
Nao sangrava, o membro estava atrofiado,
o que lhe dava o ar de um sapinho mal parido.
Trazia um trapo bordado com um nome em azul, Lavra.
Rôo passeava por ali quando a ouviu miar,
E deu entao com aquilo, um animalzinho ferido, jà.
Via-se bem em cima da pedra, embrulhadinha, enrugada a miar, insistia Rô :
- Olha-me isto-pensou o homem, e agora ?
Agarrou nela e foi direitinho a casa.
Abriu o pacote e viu-lhe a falta, deu um grito, as làgrimas saltaram,
mas ele nao era de gemidos, foi à cabra, tirou-lhe o leitinho,
fê-la mamar pelo linho embebido.
O gato, ou que era aquilo, mamou tudo e pôs-se a crescer,
so a perna é que nao, ficou a saltitar de um lado, a rastejar do outro.
Cresceu com o chao na garganta e o céu nos olhos, a miar, como um gato, dizia Rôo.
Mia minha Lavra, hàs-de encontrar numa outra vida uns pés, que crescerao em par justo.
E eu, comprar-te-i uns sapatinhos como prenda de Natal !
E para lai ficava a rezar frente ao calendàrio, com falta de meses.
Tinha là Deus dentro, dizia Lavra :
- Podes rezar por mim, Rôo ?
E là ia ele à procura do milagre, até que um dia foi Deus que o encontrou.
Lavra guardou-lhe o pouco bem que tinha, e naquele desiquilibrio, aligeirou.
Foi dnaçando de profil recortado, e desapareceu, como nascida do po do tempo,
com o trapito bordado a azul, no bolso do lado da queda.
LM
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