samedi 22 novembre 2008

AVITAL

AVITAL

« Avital, vai lavar a loiça ! », e ele ia.

Estancava junto à caixa de pedra e deixava correr a àgua .

« Avital, nao gastes tanta àgua », e ele fechava a torneira.

Baralhava a espuma e o sujo e queimava as maos grossas,

A V I T A Lamolecendo os nos.

Avital era assim, um homem do silêncio, com pés chatos

e de boca cosida.

Era cuidado e por isso o deixavam tratar dos mortos.

Nascimentos e velorios, Avital era chamado para dar a bençao

e tocar na fronte do defunto.Diziam que dava sorte fazê-lo .

Nao se sabia se era idiota ou se era de escolha ser mudo.

Também se dizia que era filho de boa gente.

Gostava de ver televisao e de noite corria todo nù pela praia.

Ouviam-se-lhe os gritos até do outro lado da costa.

Metia medo tanta dor. Os caes se escondiam debaixo

dos armàrios, os passaros ficavam loucos nas gaiolas

e os gatos enchiam as costas e espalmavam a cabeça,

miando por dentro.

Uma noite Avital nao se veio deitar no cantinho que lhe deixavam

em casa alheia. Domingo dormia no senhor Costa, na segunda-feira

ia descansar na garagem do Pau-da-Bica, e às vezes ficava na praia,

ao relento. Nao veio. A viùva do Berry, um ingles que ali ficara, acolhia-o

e deixava que ele lhe amassasse o corpo em desejos loucos.

Foi assim que lea recomeçou ater cores na cara e que o peito lhe subiu.

Avital desapareceu, na areia, no mar, nao se sabe . Nada lhe sobrou.

Um dia, na esquina da historia, alguém lançou o nome dele : « Avital ! »,

e um marunhar estranho de vozes secas de sol e de aveludado timbre,

lhes cantou uma curta tempestade, uma area bela de morrer.

Era a voz dele, afirmava a viùva, e vieram todos a correr para a praia

Ouvir aquele canto surgido do mar.

« Avital, Avital ! Anda, desejo-te…pensava a viùva do Berry,

corando até às raizes do cabelo. E foi assim, que nao podendo desobedecer

ao apelo da amante, o espectro de Avital se levantou do chao e salpicando

o povo de po e terra arenosa, foi sufocando a assistência, os amigos

e tudo que de vivo ali subsistia.

Houve depois cactos e azedas a crescerem por ali naquele deserto,

cardos também. A duna arrumou o caso.

Lidia , julho 2008

Aucun commentaire: