Foi num alivio de açucenas que Abigal
venceu aquela angustia de fim de tarde.
Cerrou os olhos e deixou que aqueles perfumes
lhe agoniassem a alma.
Tonta, acreditou na balsâmica cura
e ali ficou prostada, no meio do jardim.
Antes de voltar ao mundo, apertou as maos
e os seus dedos estalaram, ela sorriu entao.
Era hora de vésperas e oraçoes.
Gostava de pensar que as regras so faziam
sentido para justificar alguns males inexplicaveis.
Avançou para o rio e cruzou Zulmira
que fazia jà uma reza, caminhando.
- Vais à capelinha?- perguntou.
- Vou e tu?
- Eu vou ao baptismo.
Ambas se riram e Abigal sem pudor algum,
despiu-se e entrou nua e rija naquela agua gélida.
Zulmira jà desaparecia na dobra do muro.
Foi a descrente enrolar-se no fundo,
ficando visiveis os seus cabelos,
enrolados num ramo livre.
O vestido foi parar à Zulmira que o gabava tanto!
A partir dai nunca mais pedinchou nada à Senhora,
jà que de vez ela tinha levado Abigal,
deixando-lhe um bem que lhe assentava
como uma luva de senhora fina.
Mas Zulmira nao soube mais como se desapegar
daquele rio, das suas margens.
Ali ficava horas a bichanar e lutava
com o terrivel apelo que lhe fazia a agua,
murmurando, dizia ela o seu nome
como um canto profundo,
vindo direitinho da garganta do mundo.
LM,8.01.08
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