samedi 23 février 2008
Baptismo fatal
Foi num alivio de açucenas que Abigal venceu aquela angustia de fim de tarde. Cerrou os olhos e deixou que aqueles perfumes lhe agoniassem a alma. Tonta, acreditou na balsâmica cura e ali ficou prostada, no meio do jardim. Antes de voltar ao mundo, apertou as maos e os seus dedos estalaram, ela sorriu entao. Era hora de vésperas e oraçoes. Gostava de pensar que as regras so faziam sentido para justificar alguns males inexplicaveis. Avançou para o rio e cruzou Zulmira que fazia jà uma reza, caminhando. - Vais à capelinha?- perguntou. - Vou e tu? - Eu vou ao baptismo. Ambas se riram e Abigal sem pudor algum, despiu-se e entrou nua e rija naquela agua gélida. Zulmira jà desaparecia na dobra do muro. Foi a descrente enrolar-se no fundo, ficando visiveis os seus cabelos, enrolados num ramo livre. O vestido foi parar à Zulmira que o gabava tanto! A partir dai nunca mais pedinchou nada à Senhora, jà que de vez ela tinha levado Abigal, deixando-lhe um bem que lhe assentava como uma luva de senhora fina. Mas Zulmira nao soube mais como se desapegar daquele rio, das suas margens. Ali ficava horas a bichanar e lutava com o terrivel apelo que lhe fazia a agua, murmurando, dizia ela o seu nome como um canto profundo, vindo direitinho da garganta do mundo. LM,8.01.08
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